A excelente partida de Hugo Souza pelo Corinthians na última terça-feira, quando o arqueiro cria do Ninho, defendeu três penalidades e se tornou herói da classificação alvinegra, suscitou acaloradas discussões entre os torcedores rubro negros.
O primeiro ponto a ser esclarecido é que todos tem direito a opinião e isso é saudável, enquanto também é um exercício de convivência democrática. O que não pode é desqualificar a opinião alheia com argumentos do tipo: “É oportunismo falar do Hugo agora!”. Argumentos que mais uma vez os influenciadores utilizam para impor a própria opinião.
Hugo teve oportunidades no Flamengo e falhou bastante, no entanto, enquanto tinha essas oportunidades, estava claro que o jovem goleiro estava passando por problemas emocionais. Dar oportunidades sem trabalhar a raiz do problema é jogar a pessoa na fogueira e foi isso que aconteceu com Hugo no Flamengo.
Um goleiro que todos conhecem bem o potencial, está começando a levantar a cabeça longe de casa, longe do ninho. Precisou se afastar do Flamengo para começar a se resolver.
Tratar a questão Hugo Souza é importante, pois ele não é um caso isolado, o próprio Gabigol, que é ídolo, que é amado e odiado pela torcida, passa claramente por problemas de ordem emocional.
É simples para alguns, despacha-se o Gabigol e transfere-se o problema para outro clube. Para outra grande parte da torcida, não mexe no homem, ele é ídolo. As duas soluções são simplistas demais.
O que aconteceu com Hugo, acontece com Wesley, Victor Hugo e começou a ocorrer com a promessa Lorran, que foi afastado como forma de preservação.
Jogador de futebol, não é cavalo de corrida, é um ser humano que é totalmente influenciado por fatores emocionais e estes devem sim ser tratados, sob pena de comprometer o “ativo” do clube.
Tornou-se uma questão para a gestão de futebol falar em preparação mental. O que se diz é que o Flamengo foi campeão com e sem preparador mental, seja ele um psicólogo ou um bom coach. Essa é uma frase extremamente conservadora e nos remete ao passado em que os dirigentes faziam tudo no improviso da paixão.
O mundo mudou, a medicina desportiva avançou e quando falamos de preparação mental, falamos da saúde de nossos atletas. Em tempos de quinta revolução isso não deveria nem ser discutido e essa é talvez a maior falha da gestão Landim quanto a futebol.
Ano passado não ganhamos nada e tínhamos um grande elenco, está claro que fatores emocionais mexeram com aqueles homens que arrancaram a classificação para a Libertadores na bacia das almas.
O caso Hugo Souza, a princípio não tem mais volta. Mas Lorram, Sholla, Zé Wellington, Matheus Gonsalves e os outros meninos precisam ser vistos com mais critério, com olhar de gestão, um olhar que conhece o potencial e que não dá somente oportunidades, investe no mental como forma de manter o potencial.
E não se pode esquecer o elenco mais experiente, se a situação do Gabigol tivesse sido estudada lá atrás, talvez a plaquinha: “hoje tem gol do Gabigol!”, ainda estivesse sendo levantada em todos os jogos.
Todos os grandes clubes europeus cuidam da preparação mental de seus atletas, e não questionamento algum se no passado venceram sem este cuidado.
A última vez que dentro do Flamengo se teve preocupação com a preparação mental, foi justamente no ano vencedor de 2019, quando Jorge Jesus trouxe em sua equipe o excelente coach de preparação mental Evandro Mota.
Evandro Mota esteve na comissão técnica do Brasil, campeã da Copa do mundo de 1994, em 2019 integrou a equipe de Jorge Jesus, multicampeã do Flamengo, já tinha títulos com o mister no Benfica. Foi campeão da Libertadores com o cruzeiro em 1997, e com o Internacional de Porto Alegre em 2006.
Coincidência? Acho que não!